segunda-feira, 15 de junho de 2015

Quando a democracia perde a alma

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte

Ricardo Gaiotti Silva é advogado, juiz eclesiástico no Tribunal Interdiocesano de Aparecida, mestrando em Filosofia do Direito pela PUC-SP e mestrando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade de Salamanca - Espanha.

Extraordinariamente há uma unanimidade política no Brasil, estamos em crise!
Como consequência existe um anseio em encontrar rapidamente o culpado, mas enquanto o “Judas” não aparece todos nós ficamos inseguros com o futuro do nosso país, um exemplo é o fato de que, poucos meses após as eleições um numero expressivo de brasileiros desejam o impeachment. Essa instabilidade respinga em todos os setores, quer sejam políticos, econômicos e sociais, sobrando até mesmo para a democracia, tal dolorosamente conquistada pelos brasileiros.
Um fator positivo disso tudo é que a consciência política/social da população está amadurecendo pois, desde aqueles que precisam dos programas sociais do governo para alimentarem seus filhos até os que possuem capital na bolsa de valores, todos têm refletido buscando encontrar o foco dos problemas. 
Alguns acham que se trata de um problema moral, tendo como ponto central a canalhice dos agentes públicos. Outros atribuem a uma questão cultural, justificando que desde da colonização somos a pátria do jeitinho.
Há quem crê que a raiz dos problemas seja a educação, pois grande parcela da população brasileira possui baixa formação intelectual, ocasionando que, seduzidos por programas sociais e midiáticos, acabam elegendo mal seus representantes. Existem ainda aqueles que estão convencidos que se trata de um problema político, no qual a solução seria uma verdadeira reforma política, que afetaria diretamente a maneira na qual hoje é exercida a democracia.
Uma coisa é certa: A maioria pode errar! A democracia pode ser injusta!
Sem dúvida a democracia “é o instrumento histórico mais válido, se for usado bem, para dispor responsavelmente do próprio futuro de maneira digna do homem”, já afirmava o Papa Bento XVI. Porém, ela deve ser exercida com responsabilidade e ancorada em valores que estão além da vontade da maioria.
A responsabilidade do exercício da democracia pode ser vista ao curso da história, onde se evidencia tanto a sua eficiência como a ineficiência. Há casos absurdos como a legitimação de regimes totalitários, aprovações de leis que restringem direitos fundamentais, tudo isso, aprovados por meio da maioria. Por outro lado, há exemplos positivos, onde a voz da maioria foi uma verdadeira sinfonia, destaca-se as solidificações jurídicas dos direitos humanos.
Sem dúvida, os graves problemas vividos nas democracias, são motivados pelo afastamento progressivo das sociedades das verdades fundamentais, essas que devem nortear todo o agir humano e social, pois "num mundo sem verdade, a liberdade perde o seu fundamento, a democracia desprovida de valores pode perder a própria alma”, como ensinou o Papa São João Paulo II.
Portanto, se queremos um país melhor, se não queremos uma democracia sem alma é preciso termo a plena consciência que “a democracia só poderá florescer, se os líderes políticos e as pessoas por eles representadas, forem orientados pela verdade e recorrerem à sabedoria derivada de um princípio moral firme nas decisões relativas à vida e ao futuro da nação” (Discurso do Papa Bento XVI na Casa Branca em visita aos EUA).
Jornal “O São Paulo”, edição 3055, de 10 a 16 de junho de 2015.

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