segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A Casa Comum, responsabilidade e respeito

Ilustração: Sergio Ricciuto Conte
Marcelo Barroso é doutor em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela USP, coordenador do curso de Engenharia de Inovação do ISITEC/SP e  membro da comunidade Totus Mariae.

A inquietação com a Casa Comum se apresenta tanto na Campanha da Fraternidade Ecumênica de 2016 (CF2016) como na encíclica Laudato si’ (LS), do Papa Francisco, sugerindo a possibilidade de uma forte sinergia entre ambas. A CF2016 da ênfase ao Saneamento Básico como problema referencial a ser debatido, conhecido e reivindicado, assentado na questão das responsabilidades do governo (municípios, estados e União) e da sociedade. Por outro lado, a Laudato si’, mostra a inseparabilidade entre a defesa do meio ambiente e do bem comum na necessária Ecologia Integral, a qual pressupõe o respeito pela pessoa humana enquanto tal, com direitos fundamentais e inalienáveis orientados para o desenvolvimento integral.
O que está acontecendo com a nossa casa comum nos une em uma preocupação comum. “As raízes éticas e espirituais dos problemas ambientais, nos convidam a encontrar soluções não só na técnica, mas também na mudança do ser humano” (LS 8), conforme reporta o Patriarca Bartolomeu e de maneira análoga Papa Bento XVI e Papa Francisco. Este é um desafio necessário para um olhar ampliado e mais fidedigno da realidade nesta CF2016.
Nosso olhar não pode se deter na ausência dos serviços de saneamento básico. É necessário aprofundar o problema, na perspectiva de uma Ecologia Integral, procurando ver em profundidade tanto os aspectos técnicos e políticos do problema quanto os aspectos pessoais e éticos que envolvem técnicos, profissionais e dirigentes responsáveis. Só assim será possível o problema em toda a sua amplitude e dar-lhe a abordagem necessária.
Os problemas de saneamento básico devem ser vistos numa perspectiva integrada. Não podem ser dissociados das políticas de desenvolvimento urbano, que determinam os investimentos prioritários do setor público e como os serviços são distribuídos.  O saneamento básico também não pode ser dissociado da gestão por bacias hidrográficas, conforme já preconiza a Política Nacional dos Recursos Hídricos. Os municípios, as empresas e a sociedade em geral que utilizam as águas de uma bacia hidrográfica devem, por meio do diálogo, encontrar soluções que atendam ao bem comum da população.
O grande descumprimento da criação e a implantação de Planos Municipais de Saneamento se dá não somente por ausência de vontade política ou “conversões morais” dos envolvidos, mas é notório a dificuldade dos municípios possuírem profissionais capacitados para tal questão, retardando o desenvolvimento do saneamento básico em muitas situações.
Problemas de qualificação técnica, educação, capacidade administrativa e vontade política permeiam todo o processo de organização e uso adequado dos recursos presentes na casa comum. A responsabilidade é de todos, não caiamos no risco de reduzir a esse ou aquele grupo humano a culpa dos problemas ambientais, sociais e culturais, ou mesmo dos direitos básicos como o saneamento. O todo é superior a parte nos tem exortado Papa Francisco. Para isso precisamos de rumos, “qualquer solução técnica que as ciências pretendam oferecer será impotente para resolver os graves problemas do mundo, se a humanidade perde o seu rumo, se esquece as grandes motivações que tornam possível a convivência social, o sacrifício, a bondade” (LS 200).
Que as nossas lutas e a nossa preocupação por esta casa comum não nos tirem a alegria da esperança (cf. LS 244).
Jornal " O São Paulo", edição 3088, 11 a 16 de fevereiro de 2016.

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