quarta-feira, 5 de abril de 2017

Campanha da Fraternidade 2017 - Lições mútuas

A Doutrina Social da Igreja na defesa dos biomas brasileiros

VII



Esse é o terceiro ano consecutivo em que a Igreja é chamada, no Brasil, a pensar a questão ambiental. Em 2015, refletimos sobre a encíclica Laudato si’, em 2016 a Campanha da Fraternidade nos convidou a refletir sobre a “Casa comum, nossa responsabilidade” e agora em 2017 sobre “Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida”. Que lições nos ficaram de todas essas reflexões? Que contribuições podemos levar a nossos irmãos não católicos que também lutam pela defesa do meio ambiente e da vida?
A doutrina social da Igreja ganhou muito com suas reflexões sobre a questão ecológica.
Não há dúvida de que a percepção da justiça intergeneracional e de nossa responsabilidade diante das gerações futuras, ainda que presente na doutrina social, foi muito melhor compreendida a partir das contribuições do pensamento ecológico.
Refletir sobre o necessário cuidado com a criação nos tem ajudado a recuperar dimensões da espiritualidade cristã que muitas vezes haviam se perdido no tempo. Perceber o mundo como um dom e um sinal do amor de Deus para conosco, recuperar o cuidado para com toda a criação são elementos da espiritualidade cristã desde os primeiros séculos, passando por grandes santos, como São Francisco de Assis. Mas são coisas que havíamos perdido, imersos em nossas preocupações e inquietações.
Essa espiritualidade é justamente a grande contribuição que o cristianismo traz aos movimentos ecológicos. Quem convive com esses movimentos sabe que existe neles uma grande busca por espiritualidade e uma compreensão “religiosa” do mundo. Não nos esqueçamos que religião vem do latim religare, que indica a necessidade de religar a pessoa ao Todo, à Divindade – assim como a ecologia trata da ligação que existe entre todos os seres. Num mundo cada vez mais banalizado e superficial, a recuperação da espiritualidade é uma força que reúne ambientalistas e cristãos.
A doutrina social da Igreja também reforça a consciência da profunda ligação que existe entre o meio ambiente e os mais pobres e excluídos na sociedade. Justiça social e conservação dos recursos naturais são indissociáveis na prática.
Num mundo cada vez polarizado e intransigente para com o outro, o Papa Francisco – mas não só ele – salientou a necessidade absoluta do diálogo no enfrentamento dos problemas socioambientais. Diálogo entre sociedade e governo, entre os diferentes grupos sociais, da ciência com a religião e a arte.
A defesa da “casa comum” e dos biomas brasileiros necessita de todos esses elementos, da colaboração solidária entre cristãos e ambientalistas. Nosso encontro com Cristo nos leva a aprofundar nossa experiência de fé e compromisso com o próximo também nesse sentido.
Francisco Borba Ribeiro Neto
Jornal “O São Paulo”, edição 3145, 5 a  11 de abril de 2017

Nenhum comentário:

Postar um comentário